quarta-feira, 22 de abril de 2015

Plumas de asas

Liberdade

A bela palavra
A bela utopia
O belo caminho

Por ela, queremos ser presos
Por ela, queremos ser escravos
Por ela, queremos ser mandatos

Ela, como deuses, é a bela razão pela qual se comete as piores coisas
Para, no fim, se conseguir exatamente o oposto

Ela justifica
Ela é a ideia
Ela é a ideologia

Mas nunca pode ser real

Nunca deixaríamos ela sair da imaginação

Não viveríamos com ela materializada
O que precisamos é dela abstrata

Somos hipocondríacos que precisam da pílula de trigo para curar doenças falsas

Precisamos acreditar que ela é

A possibilidade de escolha
A sensação de segurança
A felicidade pelo acaso ou pelo destino
O acaso
E também no destino
A destruição pelo acaso
A criação pelo destino
Um fluxo ordinal hierárquico
Uma rede conectada aleatória
Boa

Nossos genes
Nossa programação
Nossa cultura
Nossa escolha por caminhos certos ou errados
Certa
Errada

Ela é tudo isso

Não de verdade, mas precisa ser

Pelo menos para nós

Para evitar qualquer deslocamento
Para não enlouquecer

Essa abstração nos salva
Ela é a verdadeira salvação

Acreditar nela é essencial para a ordem
E também para o caos

Não é mais que céus e infernos melhorados
Sensação de que quem morre descansa
De que quem é mau vai ser punido
De quem é bom vai ser abençoado

Como ela é justa
E como justiça, cega
Como o amor

E por isso a amamos

Patologicamente

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