Liberdade
A bela palavra
A bela utopia
O belo caminho
Por ela, queremos ser presos
Por ela, queremos ser escravos
Por ela, queremos ser mandatos
Ela, como deuses, é a bela razão pela qual se comete as piores coisas
Para, no fim, se conseguir exatamente o oposto
Ela justifica
Ela é a ideia
Ela é a ideologia
Mas nunca pode ser real
Nunca deixaríamos ela sair da imaginação
Não viveríamos com ela materializada
O que precisamos é dela abstrata
Somos hipocondríacos que precisam da pílula de trigo para curar doenças falsas
Precisamos acreditar que ela é
A possibilidade de escolha
A sensação de segurança
A felicidade pelo acaso ou pelo destino
O acaso
E também no destino
A destruição pelo acaso
A criação pelo destino
Um fluxo ordinal hierárquico
Uma rede conectada aleatória
Boa
Má
Nossos genes
Nossa programação
Nossa cultura
Nossa escolha por caminhos certos ou errados
Certa
Errada
Ela é tudo isso
Não de verdade, mas precisa ser
Pelo menos para nós
Para evitar qualquer deslocamento
Para não enlouquecer
Essa abstração nos salva
Ela é a verdadeira salvação
Acreditar nela é essencial para a ordem
E também para o caos
Não é mais que céus e infernos melhorados
Sensação de que quem morre descansa
De que quem é mau vai ser punido
De quem é bom vai ser abençoado
Como ela é justa
E como justiça, cega
Como o amor
E por isso a amamos
Patologicamente
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