sábado, 5 de dezembro de 2009

Por mais que eu queira

Atração
Por mais que eu me afaste, ela me trai

Alteração
Por mais que eu mude, volto mudo

Alcance
Por mais que eu tente, canso

Vingança
Por mais que eu queira, não existe

sábado, 21 de novembro de 2009

Até a hora

Quantas vezes?
minha lembrança terá que ir até você?

Procurar por você em outrem?
Amá-la e odiá-la por milésimos de diferença?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Algo

Minha poesia não é metalinguística
Nem paradoxal
Muito menos contraditória

Minha poesia é nada
Não é nada

É algo

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Sou metálico

Tentando me encontrar
Tentando fundir e destroçar as correntes que me agarram
E me arrastam

Como um corpo morto
Essas correntes são metálicas
Eu também

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Tudo parou

Tudo parou

Os pássaros fixaram-se no ar
Os peixes na água
As pessoas pararam

O homem que acendia um cigarro não o tem mais
O homem que cortava o cabelo continua o tendo
A mulher que esperava um taxi segue esperando
O taxi parou

O trânsito segue igual
Os carros parados
As pessoas dentro dos carros paradas
As músicas dos rádios desses carros paradas
Ficaram monossónicas, presas na fixação
Que inundou o mundo

Acabaram-se as guerras
Acabou-se a fome
A Amazônia não mais sofre

Não existe mais dia
Não existe mais noite
Não existe mais ano

Só existe o infinito fixo

E assim acaba-se o mundo:

O oposto do fim

Todos contra todos, um por um

Todos contra todos, um por um

Querendo dormir

Um lado meu quer dormir
O outro, ficar acordado

Dois lados meus querem dormir
O outro, ficar acordado

Três lados meus querem dormir
O outro, ficar acordado

Quatro lados meus querem dormir
O outro, ficar acordado

Todos os meus lados querem dormir
O outro, ficar

O quarto tempo

Não existe só o presente, o passado e o futuro

Existe também o tempo paralelo, o quarto tempo

Nele, você não fez o que fez no passado
Nele, você não fará o que de fato fará, de forma previsível

Nele, as coisas parecem andar nos trilhos

Esse tempo existe
Por não existir

Passado assombroso

O passado
Assombra-me
Arranca-me a carne de forma impiedosa

O presente está comprimido entre dois tempos
Comprimido que me relaxa

O futuro
Destrói-me quando o vejo olhando para o passado
Relaxa-me quando o vejo olhando para o presente
Enlouquece-me quando o vejo olhando para o futuro

Fim da lógica

Vamos arrancar a lógica da terra
Retirar suas raízes

Suas folhas, quero-as secas
Seus frutos, podres

Suas sementes, inativas

Para tornar o mundo um pouco mais divertido
Cheio de pés de porcos
Pés de galinhas
Cogumelos lendo o jornal de amanã

Árvores comendo humanos
Só os lógicos, só os lógicos

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A lembrança esquecida

Onde estão
minhas lembranças?

Será que as deixei cair num lugar onde eu não posso entrar?

Mas eu não lembro onde eu as deixei

É isso que importa agora

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Ordem dos fatores

Distraído por estar disponível
Disponível por estar distraído

Destruído por estar distraído
Distraído por estar disponível

Destruído por estar traído
Traído por estar destruído

Traído por estar destraido
Destraído por estar traído

domingo, 27 de setembro de 2009

sábado, 26 de setembro de 2009

Sim, um fungo

Sou o bolor
que fui formado por você me esquecer no cesto

Sou o mofo
que surgi por ficar trancafiado, no escuro, só

Sou o cogumelo
que alucino e sou aluninado por meu próprio veneno

Sou o fermento
que faço o bolo não repartido entre nós dois crescer

Sou a orelha-de-pau
que tudo ouço

Sou o sapinho
que ainda não virei príncipe

A sombra

Quero sua sombra
Para eu deitar nela
Como se ela fosse uma rede
uma cama

Sua sombra me acalenta
Ela me concola
Deixa-me sóbrio
Ela me deixa dormir

Por mais cinco minutos

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Molhando-se no silêncio

Eu me molho no silêncio
Para secar o grito da dor

A dor, porém, essa não seca

Ela se alimenta de silêncio

A forma

Eu me voluntario a pensar da forma certa

E consigo, assim, pensar da forma errada

Eu me obrigo a não pensar da forma errada

E consigo, assim, a certa forma errada

O fim do mundo

Onde eu estava
quando anunciaram o fim do mundo?

Estava no meu mundo
que acabou e renasceu várias vezes.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Diferença

No mundo em que as pessoas querem ser diferentes
Acabam conseguindo ser iguais

No mundo onde todos querem ser iguais
Permanecem iguais

A diferença existe sem querer

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Pensando e existindo

Alguém pediu pra nascer?
Alguém escolhe existir?

Alguém não gosta de existir?
Alguém existe, logo pensa?
Que pensa, logo existe?

Ocupando

Todo o espaço que ocupo
Deixa vazio o restante

Todo o tempo que ocupo
Deixa a inexistência no restante

Toda a vida que ocupo
Deixa um vácuo na inexistência

Efeito tempestade

A borboleta bate as asas
E faz tempestade num copo d'água

Vida parada

A vida não é uma passagem

É uma parada
Entre duas viagens

O que minha alma quer

Minha alma diz
O que devo fazer

Meu corpo tema
em desobedecer

Meu corpo teme
O que minha alma quer

Pois ele sabe
O que ela quer ser

Quer ser livre

E meu corpo teme sê-lo

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Asas de metal

Sou zinco
Sou cobre
Sou mercúrio

Tenho nervos aço
Punhos de ferro
Alma de chumbo
Coração de ouro

Tenho áurea
Tenho auréola
E tenho asas

domingo, 20 de setembro de 2009

Temperos temporais

O futuro tem sabor de passado hoje
Tinha o gosto amargo de presente mal-passado

E terá o gosto azedo de um passado inexistente

sábado, 19 de setembro de 2009

Barulhos são externos

Um som misterioso me viu passar pelo silencio e achou ter me ouvido
Mas não percebeu que o barulho vinha de outrem

Barulhos são externos

Seguindo

Eu sigo minha sombra procurando encontrar por ela a luz que a cria

Eu sinto minha dor procurando encontrar por ela a minha ferida

Eu sigo meu instinto procurando encontrar por ele a razão perdida

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Sentido

Quero som em pó
Para misturar na água
E ter música liquida

Quero barras de imagens,
para serem quebradas
E eu ter partículas de cores

Eu quero sentir na pele algo sombrio
e silencioso, que faça do meu tato algo novo

Quero ver o frio
E ouvir os aromas

Não é que a vida que não tenha sentido.
Ela o tem demais.

Brincadeiras

A vida brinca de pique-esconde

A morte brinca de pique-pega

Perseguindo o destino

O destino tenta escapar de mim
Mas não consegue
Pois eu que o persigo

Meio perdido

Estou me achando meio perdido
Meio estraçalhado

Plenamente destroçado
Inteiramente dividido

Um dia atemporal

Tudo novo ontem
Tudo envelhecido amanã

O que torna este dia
Um fenômeno atemporal?

Em que o passado passa
O futuro flutua
E só o presente fica?

O monstro

Algumas pessoas viram monstros
E decidiram fechar os olhos
Assim, não viram que os monstros eram elas mesmas

Fogo interno

Ao fogo interno
que corrói os corpos

Ao fogo intenso
que destrói plantações

Ao fogo eterno
que derrete almas

Ao fogo, inferno
do qual poucos saem

Eu ofereço a frieza

Interna
Externa
Eterna

Inexiste a inexistência

Fato é fato, não adianta negar
Fardo é fardo, não tente escapar
Já estou farto de tanto tentar

Eu já estou morto pela experiência

E é tarde demais para morrer
E é cedo demais para nascer

Mas não tento escapar, tenho paciência

Pois inexiste a inexistência

Nada fora do lugar

Nada estava no lugar
antes de a ordem chegar
antes de ela mandar
cada coisa em seu devido e cobrado lugar

Um pesadelo

Um pesadelo
Do qual poucos participam
Ou, se forem muitos
São poucos em suas solidões

Nada que eu não tenha pensado

Você não me diz nada
Que eu ainda não tenha pensado
Que eu ainda não tenha pesado
Que eu ainda não tenha passado
Que eu ainda não tenho presente
Que eu já não tenho mais futuro

Dormindo no inferno

Dormindo no inferno
Dormindo no inverno
Dormindo no deserto

Domingo no inferno
Domingo no inverno
Domingo no deserto

Domino no inferno
Domino no inverno
Domino no deserto

Dominó no inverno
Dominó do inferno
Deserto sem dominó