terça-feira, 13 de outubro de 2009

Sou metálico

Tentando me encontrar
Tentando fundir e destroçar as correntes que me agarram
E me arrastam

Como um corpo morto
Essas correntes são metálicas
Eu também

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Tudo parou

Tudo parou

Os pássaros fixaram-se no ar
Os peixes na água
As pessoas pararam

O homem que acendia um cigarro não o tem mais
O homem que cortava o cabelo continua o tendo
A mulher que esperava um taxi segue esperando
O taxi parou

O trânsito segue igual
Os carros parados
As pessoas dentro dos carros paradas
As músicas dos rádios desses carros paradas
Ficaram monossónicas, presas na fixação
Que inundou o mundo

Acabaram-se as guerras
Acabou-se a fome
A Amazônia não mais sofre

Não existe mais dia
Não existe mais noite
Não existe mais ano

Só existe o infinito fixo

E assim acaba-se o mundo:

O oposto do fim

Todos contra todos, um por um

Todos contra todos, um por um

Querendo dormir

Um lado meu quer dormir
O outro, ficar acordado

Dois lados meus querem dormir
O outro, ficar acordado

Três lados meus querem dormir
O outro, ficar acordado

Quatro lados meus querem dormir
O outro, ficar acordado

Todos os meus lados querem dormir
O outro, ficar

O quarto tempo

Não existe só o presente, o passado e o futuro

Existe também o tempo paralelo, o quarto tempo

Nele, você não fez o que fez no passado
Nele, você não fará o que de fato fará, de forma previsível

Nele, as coisas parecem andar nos trilhos

Esse tempo existe
Por não existir

Passado assombroso

O passado
Assombra-me
Arranca-me a carne de forma impiedosa

O presente está comprimido entre dois tempos
Comprimido que me relaxa

O futuro
Destrói-me quando o vejo olhando para o passado
Relaxa-me quando o vejo olhando para o presente
Enlouquece-me quando o vejo olhando para o futuro

Fim da lógica

Vamos arrancar a lógica da terra
Retirar suas raízes

Suas folhas, quero-as secas
Seus frutos, podres

Suas sementes, inativas

Para tornar o mundo um pouco mais divertido
Cheio de pés de porcos
Pés de galinhas
Cogumelos lendo o jornal de amanã

Árvores comendo humanos
Só os lógicos, só os lógicos